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RESILIÊNCIA. SABER COMO ENCARAR AS MUDANÇAS DA VIDA

Serban Ionescu, psiquiatra e psicólogo, professor emérito na Universidade Paris-VIII, acaba de dirigir o trabalho coletivo Tratado de resiliência assistida (Ed. PUF).  Primeiros resultados mostram que o nível de resiliência aumenta com a idade. Por Pascale Senk – Le Figaro

 Le Figaro – O senhor é um especialista da resiliência e esta última se refere a episódios traumáticos.  Mas não poderíamos dizer que, na sua vida, qualquer pessoa por meio de mudanças e crises inevitáveis será levada a passar por episódios de resiliência?

Serban Ionescu – Contrariamente a uma opinião bastante difundida, a palavra «resiliência» não se refere apenas aos traumas psíquicos. Ela se refere ao processo pelo qual as pessoas que vivenciaram ou estão vivenciando condições de adversidade não têm transtornos mentais. A adversidade é polimórfica e pode ser crônica ou aguda. Sendo assim, ela pode assumir a forma de um evento traumático como o tsunami ou pode ser crônica, tal como estamos ao nos encontrarmos em uma situação de desemprego de longa duração. Na verdade, o processo de resiliência pode se manifestar em uma variedade de situações.


Poderia dar um exemplo?

As trajetórias da vida incluem mudanças e crises que podem ser muito intensas em algumas pessoas. A prática clínica nos ensina que algumas pessoas vivem muito mal, por exemplo, a transição do trabalho para a aposentadoria: a vida pode-lhes parecer subitamente sem sentido, elas podem se sentir velhas e apresentar sintomas de depressão. A maioria das pessoas que chega à idade da aposentadoria, no entanto, se prepararam para essa transição: elas elaboraram projetos e, uma vez aposentadas, elas realizam tudo o que não tiveram tempo de  fazer antes. Esta segunda forma de abordagem da aposentadoria está relacionada a um processo de resiliência.


Como explicar a diversidade de reações face à adversidade?

Os fatores envolvidos nos processos de resiliência (tanto fatores de risco como de proteção) são individuais, familiares e sócio-ambientais. A maioria desses fatores varia em função da idade.

A resiliência foi observada em todas as idades. Duas pesquisas recentes realizadas na Suécia e na Bélgica evidenciam, no entanto, que o nível de resiliência aumenta com a idade. Estes resultados tendem a sustentar a hipótese de que o processo de resiliência pode ocorrer mais facilmente à medida que as pessoas vivem situações problemáticas diferentes e chegam ao fim das adversidades encontradas.


Seria como se o indivíduo estivesse mais acostumado a se recuperar das crises?

Uma comparação com o que acontece no caso das vacinas poderia ser tentada … Uma dose de vacina contendo uma bactéria ou um vírus atenuado seguida de reforços desta vacina permite que o organismo humano fabrique anticorpos para protegê-lo durante o encontro com a bactéria ou o vírus não atenuado. Da mesma forma, poderíamos dizer que o encontro com episódios de adversidade durante a vida permite dispor de estratégias que facilitem a passagem por tais episódios, caso ocorram posteriormente.

No entanto, tenha cuidado para não interpretar minhas observações como uma espécie de receita para viver traumas e adversidades, para lidar melhor com os caprichos da vida! Mas é certo que uma existência superprotegida não promove o desenvolvimento de estratégias que permitem enfrentar com sucesso a adversidade que podemos encontrar em um momento ou outro da vida.